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Uma oportunidade única de redescobrir e entender a obra dos grandes nomes da filosofia, numa coleção de livros: dos pré-socráticos aos pensadores contemporâneos.
Às 5as feiras, com o seu Correio da Manhã.
A filosofia nasceu há vinte e sete séculos, formulando perguntas essenciais que nenhuma outra disciplina ousara fazer até então: qual é a origem de tudo? Há uma ordem no Universo? O que é conhecer?
Uma constelação brilhante de pensadores transformou a relação das pessoas com o cosmos. Aqueles cientistas-filósofos renunciaram às explicações sobrenaturais da religião e confiaram no intelecto e na observação estrita para indagar o fundamento de tudo o que existia.
Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras, Heraclito, Parménides, Empédocles, Anaxágoras são os nomes dos pensadores que apresentaram à mente humana novos problemas e modos de os abordar: desafios metafísicos sobre o fundamento da realidade; ontológicos sobre a conceção do ser; e éticos sobre o sentido da existência humana. Questões que ainda não resolvemos e continuam em aberto, alimentando o nosso pensamento./p>
Nascido durante os últimos anos da Atenas de Péricles, Platão é merecidamente considerado como o fundador da Filosofia com letra maiúscula. No seu pensamento, espelhado de um modo belo nos seus inúmeros diálogos e nos seus famosíssimos mitos, o filósofo ateniense delimitou as que desde então têm sido as questões fundamentais da disciplina e formulou as categorias essenciais do pensamento filosófico durante os dois mil anos seguintes.
Parece-me, pois, que se há algo belo à margem do belo em si, não será belo por nenhum outro motivo, salvo porque participa daquela beleza.
Platão, Fedón
Pois, se me matardes, sendo eu como sou, fareis mais mal a vós próprios do que a mim. Nem Meleto nem Ânito podem fazer-me algum mal: não creio que a lei divina consinta que um homem melhor possa ser maltratado por outro pior. Poderiam talvez matar-me, banir-me ou privar-me de direitos, pensando como outros que são estas coisas grandes males. Mas eu não penso assim. O que penso é que quem o fizer está a fazer a si próprio muito pior, por tentar matar injustamente um homem inocente
Platão, A Apologia de Sócrates
Autêntico enfant terrible da Filosofia, o pensamento de Nietzsche representou algo mais do que uma lufada de ar fresco na história da disciplina: foi uma autêntica rutura com toda a tradição filosófica do passado. Às enganosas pretensões da razão e à moral do escravo, própria do cristianismo, opôs a figura do super-homem, que subverte os valores convencionais e aceita jovialmente a fatalidade de um destino regido pela vontade de poder.
O homem é uma corda estendida entre a besta e o super-homem, uma corda sobre o abismo.
Friedrich Nietzsche, Assim Falava Zaratustra
O próprio Kant não hesitou em definir a sua Filosofia como uma “revolução copernicana” na história do pensamento, pois a sua obra significava uma revolução equivalente à que representara o heliocentrismo de Copérnico para a ciência. É que Kant é indiscutivelmente o fundador da Filosofia moderna: com a sua obra completa-se essa viragem rumo à subjetividade, timidamente iniciada por Descartes e radicalizada por Hume, que caracterizará toda a Filosofia até aos nossos dias. Após a publicação das suas famosas três Críticas, já nada voltaria a ser como antes.
Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.
Immanuel Kant
Os pensamentos sem conteúdo são vazios; as instuições sem conceitos são cegas. [...] O entendimento nada pode intuir e os sentidos nada podem pensar.
Immanuel Kant
Discípulo de Platão, por quem sempre sentiu um reverencial respeito, Aristóteles é o criador do primeiro grande sistema filosófico. Foi tal a erudição do filósofo macedónio e tal a amplitude do seu génio, que quase não há âmbito do saber que não tenha convertido em objeto de reflexão. Da contraposição às teses do seu mestre (de quem se conta que disse “amicus Plato, sed magis amica veritas”) surgiram as grandes alternativas entre as quais se desenvolverá o pensamento filosófico futuro: racionalismo e empirismo, idealismo e materialismo, transcendência e imanência.
Todos os homens, por natureza, tendem para o saber.
Aristóteles, Metafísica I
Pois os homens começam e começaram sempre a filosofar impelidos pela admiração.
Aristóteles, Metafísica I
Não basta conhecer a virtude, há que procurar tê-la e praticá-la.
Aristóteles, Ética Nicomáquea
Filósofo, historiador e economista, Marx é muito mais do que o pai do comunismo. O seu materialismo dialético representa uma inovadora e poderosa ferramenta para a interpretação dos processos sociais e históricos, com que se evidencia a centralidade das estruturas materiais para a adequada compreensão das superestruturas ideológicas e conceptuais de cada época. Um pensamento que ilumina uma nova antropologia filosófica, para a qual o homem e a sua consciência são o resultado da interação com o mundo.
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.
Karl Marx, Teses sobre Feuerbach
Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência.
Karl Marx, Para a Crítica da Economia Política in Obras Escolhidas em três tomos
Schopenhauer continua a ser atualmente um dos filósofos clássicos mais lidos. A sua absoluta vigência deve-se à radicalidade com que examina o fundo da existência humana e geral, que ele concebe como uma força irracional, cega e destrutiva. Schopenhauer, o grande pessimista das ideias, proporciona, porém, recursos para se sobreviver à dor da vida: a compaixão pelo sofrimento alheio, de inspiração oriental, e a possibilidade de suspender o desejo e a frustração mediante a contemplação estética.
Querer é essencialmente sofrer, e como viver é querer, toda a vida é essencialmente dor.
Arthur Schopenhauer, Parerga e Paralipómena
O filósofo, economista e historiador escocês David Hume (1711- 1776) levou até às últimas consequências o projeto empirista idealizado por John Locke e George Berkeley. A forma como o atinge implica enclausurar por completo a própria possibilidade da metafísica, entendida como o conjunto de teorias que pretende ir mais além da experiência. Mas Hume é mais do que o estádio último de uma tradição, o pensador que despertou Kant do seu sonho dogmático ou o precedente do positivismo lógico do século XX, como bem se mostra ao longo das páginas deste livro. Em última análise, Hume continua a ser nosso contemporâneo, na medida em que as sociedades ocidentais encarnam muitos dos valores que defendeu, assim como, a outro nível, constitui uma alternativa com a qual confrontar outros modelos sociais.
Diz-se da lendária figura de Pitágoras que foi um grande matemático a quem são atribuídas audazes hipóteses nos campos da astronomia ou da música. Além do mais, segundo Cícero, Pitágoras teria sido o primeiro a usar o qualificativo de filósofo, aplicando-o precisamente a si próprio. Mas o que significa isto? O que acrescenta a condição de filósofo ao cientista Pitágoras? Para encontrar uma resposta, remontamo-nos às brilhantes cidades marítimas da Jónia (Mileto, Samos, Éfeso), cinco séculos antes da nossa era e, ao fazê-lo, viajamos até à infância da filosofia, uma infância bem-aventurada, onde o espanto perante o que acontece gera interrogações plenamente atuais. Ora, ao contrário do percurso normal da vida, em que os anos infantis parecem ficar definitivamente para trás, cada vez que a filosofia atinge uma nova etapa, esta revela-se como um retorno enriquecido ao seu momento de arranque.
E a política fez o homem… tal como é. Se alguém reparou que a política e os seus governantes modelam decisivamente os povos, esse alguém foi Rousseau. Firme partidário de taxar as grandes fortunas, defendia que a coesão social passava por propiciar uma classe média, erradicando-se simultaneamente a indigência e a opulência. Foi músico, romancista, politólogo, filósofo moral, pedagogo, botânico e inaugurou o género autobiográfico. Iluminista atípico, o culto da razão, próprio do seu tempo, não implica esquecer o papel das emoções. Daí que os seus textos servissem de inspiração tanto a Kant como ao romantismo. Robespierre idolatrou-o, muitos viram nele o pai intelectual da Revolução Francesa, mas também foi considerado um antepassado de Marx, havendo ainda quem o considere precursor dos totalitarismos. O máximo interesse de Rousseau consiste em ter sabido vislumbrar todas as encruzilhadas que caracterizam a época moderna: a nossa.
Cogito ergo sum, penso logo existo. Não existe em toda a história da Filosofia uma máxima com maiores índices de popularidade, por diversas ocasiões em seu prejuízo. Mas o que se esconde por trás deste aforismo, aparentemente banal? Porque constitui um marco fundamental na história do pensamento? Com o famoso cogito, o racionalismo cartesiano inaugura uma nova etapa na história das ideias, na qual o pensamento se transforma em fundamento último de toda a realidade.
E observando que esta verdade, penso, logo existo, era tão firme e segura […] pensei que podia aceitá-la sem reservas como o primeiro princípio filosófico de que andava à procura.
René Descartes, Discurso do Método
Em derradeira instância, acordados ou a dormir, nunca nos devemos deixar persuadir salvo pela evidência da razão.
René Descartes, Discurso do Método
Penso, logo existo, era tão sólida e tão certa que nem as mais extravagantes suposições dos céticos a poderiam abalar, julguei que podia aceitá-la, sem reservas, como o primeiro princípio da filosofia que procurava.
René Descartes, Discurso do Método
A figura de Santo Agostinho brilha com uma luz própria entre as dos diversos Padres da Igreja. Primeiro grande teólogo da cristandade, o seu pensamento girará obsessivamente em torno de uma questão fundamental: se Deus é bom e omnipotente, como se pode explicar a existência do mal? Os conceitos sobre os quais construirá a sua resposta a esta questão fulcral (graça, catolicidade e predestinação) moldarão o pensamento cristão ocidental.
Poucos filósofos tiveram o raro privilégio de revolucionar em duas ocasiões a história do pensamento, e Wittgenstein é, sem dúvida, um deles. Primeiro com a publicação do seu famosíssimo Tractatus Logico-Philosophicus, texto de referência do que viria a ser conhecido como o atomismo lógico. E, numa segunda etapa, com a viragem pragmática do seu pensamento, que plasmou nas Investigações Filosóficas. Duas obras que, por si só, fazem de Wittgenstein um dos filósofos mais originais e influentes do século XX.
As escolas filosóficas helenísticas, principalmente o estoicismo e o epicurismo, aparecem em pleno século XXI como uma fonte de inspiração intelectual e espiritual de surpreendente modernidade. Desconsideradas durante muito tempo por serem vistas como filosofias menores e decadentes, no ocaso da civilização grega, entendemos hoje que foram uma reação a uma profunda crise política, social e religiosa – a perda de hegemonia da cidade-estado grega –, e à necessidade de encontrar uma nova compreensão do ser humano. A grande finalidade dos pensadores estoicos e epicuristas foi mais prática do que teórica: trataram, sobretudo, de encontrar as vias para uma vida individual feliz apesar de todas as adversidades. O estoicismo teve uma enorme influência na filosofia romana, renascentista e posterior. O epicurismo fornece propostas éticas – procura da serenidade, usufruto sábio da vida, gozo dos prazeres espirituais, primazia da amizade – muito desejáveis para o ser humano atual.
Hoje continua a ser necessário revisitar o pragmatismo e o senso comum de Voltaire, para quem só valia a pena refletir sobre o que é útil, sem perder tempo com questões que não interessam a ninguém. Nada o horrorizava mais do que aborrecer-se e, por isso, os seus escritos são de uma viva amenidade. A ironia e o sentido de humor foram as suas melhores armas para lutar contra o fanatismo, a intolerância e os preconceitos. Qualquer pessoa pode ter as convicções ou as crenças que quiser, desde que não pretenda impô-las aos outros como um dogma indiscutível. Enriqueceu para usufruir de uma independência que a sua família não lhe proporcionou e da qual poucos desfrutavam naquela época. E nunca deixou de lutar contra as injustiças, como testemunha o seu Tratado sobre a Tolerância, um autêntico ícone contra todo o tipo de fanatismos.
Sigmund Freud (1856-1939), considerado, a par de Nietzsche e Marx, como um dos mestres da suspeita, não hesitou em equacionar questões filosóficas até então nunca formuladas como, por exemplo: o que significam os nossos sonhos?; somos realmente seres racionais que conseguiram controlar os instintos?; que elevado preço devemos pagar por viver em sociedade?, talvez renunciar à expectativa de atingir a felicidade? Se quisermos encontrar as respostas para estas e muitas outras questões, devemos sem dúvida recorrer a Freud. No presente livro, expõe-se o pensamento do pai da psicanálise, procurando destacar- se precisamente todas aquelas ideias que a grande tradição filosófica ocidental fizera questão de silenciar.
John Locke (1632-1704), pai do empirismo e do liberalismo político, é considerado um dos filósofos mais influentes da história, apesar de em inúmeras ocasiões ter sido um dos mais esquecidos. O presente volume empreende a tarefa de lhe fazer justiça, aprofundando os seus contributos dentro do campo da filosofia, da política e da divulgação científica. Os seus méritos ligam-se intimamente à época e ao lugar aos quais pertenceu: filho da Inglaterra do século XVII, viveu o auge da burguesia, a crise do sistema feudal e o florescimento da nova ciência. Defensor da experiência e da sensibilidade como fontes válidas de conhecimento perante os excessos do racionalismo extremo, a sua visão moderada e crítica levou-o a formular uma teoria política antiautoritária, a favor de um Estado garante das liberdades individuais e do direito de revolta dos cidadãos contra os governos. Daí o interesse em examinar com atenção, naquilo que contêm de antídoto crítico libertador de preconceitos, as reflexões comedidas deste grande filósofo.
A filosofia tem certamente uma história, com momentos indiscutíveis. Prescindir de Platão, Aristóteles, Descartes ou Kant equivaleria a decapitar totalmente a filosofia. Pode dizer-se o mesmo de Friedrich Hegel? Muitos enfatizaram o peso de certas teses da dialética hegeliana, como por exemplo a sua crítica ao que ele chama «ternura comum pelas coisas», que consiste em pensar que é possível a diferença sem oposição face àquilo de que se difere, que a igualdade entre os diferentes pode ser um ponto de partida e não uma conquista e, em suma, que a portagem da contradição é evitável. No entanto, pensadores de primeira água afirmaram que o hegelianismo é meramente um parêntese de arbitrariedade e de obscurantismo na história do discorrer filosófico. Em todo o caso, até os mais ácidos detratores veem pelo menos uma utilidade profilática na leitura de Hegel: para eles, o hegelianismo seria uma espécie de sarampo pelo qual obrigatoriamente há que passar. Assim, após as exacerbadas críticas de um Bertrand Russell ou de um Michel Foucault resta talvez a convicção de que o próprio movimento da filosofia conduz a esse elo que é Hegel, pelo qual o ajuste de contas com este seria um ajuste de contas da filosofia consigo própria.
A filosofia de Baruch de Espinosa (1632-1677) constitui o auge do pensamento racionalista. Nenhum outro autor se restringiu tão rigorosamente aos conceitos do puro intelecto para atingir uma descrição do universo e do homem, do plano físico e exterior e da dimensão moral e afetiva interior. Fascinado pelo método matemático geométrico próprio da triunfante Revolução Científica do século XVII, Espinosa compôs a sua filosofia através de definições, axiomas e demonstrações. O que se revela extraordinário é que, mais de três séculos depois de a escrever, e quando o referido método já não tem qualquer aplicabilidade no âmbito filosófico, a conceção espinosiana da existência continua a ser uma das mais ricas, estimulantes e fascinantes que o pensamento humano produziu.
Polémica e controversa, a obra do grande teórico do poder que foi Nicolau Maquiavel não deixa ninguém indiferente. Possuidor da inteligência prática mais privilegiada de todo o Renascimento, Maquiavel reflete sobre a natureza humana na ação política, pondo a tónica nos atos e não nas ideias justificadoras ou nos princípios morais. O seu olhar coloca- -nos perante um espelho que muitos preferem não encarar, muito embora seja certo que líderes de todo o planeta têm um exemplar de O Príncipe na mesa de cabeceira. A importância do seu realismo político é desmedida e a sua influência tem aumentado com o decorrer do tempo. A presente obra aborda os conselhos que Maquiavel proporciona a todos aqueles que aspiram a vencer na disputa pelo poder, um jogo que, como a guerra e o amor, aparentemente carece de regras.
A filosofia de Heidegger (1889-1976) ilustra uma ambiguidade original que percorre toda a sua obra: culminar a tradição filosófica que vem de Aristóteles e Platão e chega até Hegel e Nietzsche, e ao mesmo tempo proceder à sua destruição. No seu livro principal, Ser e Tempo (1927), a questão do ser (a ontologia) faz a sua última aparição cénica e retórica, mas precisamente para revelar o seu fracasso como questão: o sentido do ser é refratário a qualquer teoria e não pode, consequentemente, ser tratado como um objeto, porque precede qualquer tematização. À filosofia cabe- -lhe, portanto, a dupla tarefa de desmontar a história da ontologia e pensar o ser ligado exclusivamente à sua manifestação e interpretação. A filosofia torna-se, assim, fenomenologia e hermenêutica. A aceitação de Heidegger é hoje indissociável da sua controversa biografia, ligada à sua vinculação com o nazismo, e da sua deslumbrante aventura filosófica, que envolve as principais correntes do pensamento do século XX – a fenomenologia, o existencialismo, o marxismo, o estruturalismo, o desconstrutivismo – e o converte na figura principal da sua época.
Søren Kierkegaard (1813-1855) é autor de uma personalíssima obra que abre uma nova via no pensamento. Situa o sujeito existente, o ser humano real e histórico, como fundamento de todo o ato de pensar. Com isto constrói uma nova conceção do conhecimento e da verdade, que já não é a conceção abstrata e eterna que o idealismo e o racionalismo tradicionais tinham sustentado. O existente concreto e particular, com a sua carga subjetiva e a sua aspiração espiritual, coloca-se desta forma no centro da reflexão. Quando, depois do final da Segunda Guerra Mundial, os filósofos relacionados com a corrente existencialista tentam reformular, a partir dos escombros, uma nova filosofia moral e uma cultura, não procuram as abstrações que propiciaram a barbárie, mas sim a revolução kierkegaardiana rumo ao centro do ser humano. A partir desta recuperação, descobriu-se no pensador dinamarquês uma enorme riqueza na qual a psicologia, a filosofia e o génio literário se colocam ao serviço de uma tarefa religiosa: levar o ser humano individual à essência do cristianismo.
Atravessando praticamente o século XX, a filosofia de Jean-Paul Sartre caracteriza-se, acima de tudo, por constituir uma reflexão sobre a condição humana e pela defesa radical da liberdade. Esta é a raiz genuína do existencialismo que conduz à proposta de uma moral individualista e nada solidária. Mas Sartre, testemunha privilegiada dos acontecimentos emocionantes do século XX, encaminhar-se-á rapidamente para a proposta de uma frutífera relação entre a sua própria filosofia e o marxismo, abrindo-se a uma proposta de colaboração teórica e política. Refazendo sem parar os seus compromissos sociais, por fim, Sartre compreenderá o existencialismo como a reflexão sobre a liberdade individual que é preciso acrescentar ao horizonte histórico para entender os processos sociais, configurados, ao mesmo tempo, por leis gerais e pela atividade da irrenunciável liberdade humana.
Karl Popper e Thomas Kuhn são os dois filósofos da ciência mais influentes do século XX. O primeiro concebeu uma nova metodologia científica, a falseabilidade, segundo a qual a principal missão da investigação consiste não em confirmar as teorias científicas, mas em falseá-las, ou seja, procurar casos concretos que as refutem. No campo das ideias sociais e políticas, Popper desenvolveu uma crítica sistemática a todas as formas de totalitarismo. Por seu lado, Kuhn obteve reconhecimento pela sua interpretação do desenvolvimento histórico da ciência como uma sucessão de paradigmas, cada um dos quais guia a investigação durante um longo período até que entra em crise e, através de uma revolução científica, é substituído por um novo paradigma incomensurável com o primeiro. As abordagens de Popper e Kuhn são bastante opostas, e a polémica entre os dois autores desempenhou um papel significativo na filosofia da ciência da segunda metade do século passado.
Thomas Hobbes es uno de los más brillantes –y a la par olvidados– filósofos del siglo xvii . Hombre de letras, humanista y científico, combinó empirismo y racionalismo en la aplicación que llevó a cabo del método hipotético-deductivo a la filosofía. Su pensamiento es recordado sobre todo por sus ideas políticas. Hobbes es el arquitecto de una fortaleza teórica que hunde sus cimientos en las decisiones racionales de unos individuos decididos a erigir ese poder soberano y protector que es el Estado. La obligación de obedecer a esta autoridad suprema parte del consentimiento recogido en un contrato social que establecen estos mismos individuos. Paradójicamente, el poder centralizado y absoluto, inmortalizado en la figura del gran Leviatán, es para Hobbes el mejor garante de la libertad de los hombres frente a ellos mismos.
A Filosofia francesa representou desde sempre uma das tradições mais ricas na história do pensamento, da qual surgiram algumas das figuras e das ideias mais relevantes da disciplina. A contemporaneidade não havia de ser uma exceção. Nela se destacam merecidamente os nomes de Michel Foucault e Jacques Derrida que, a partir das trincheiras do estruturalismo e da “Filosofia da diferença”, fizeram contribuições decisivas para o panorama filosófico da segunda metade do século XX.