As histórias que moldaram o rumo da nossa história.
O mundo fascinante que influenciou o nosso património cultural, a arte antiga e moderna.
O mundo fascinante que influenciou o nosso património cultural, a arte antiga e moderna.
Os mitos e paixões dos deuses e heróis mais importantes da mitologia, em versões romanceadas que respeitam o dramatismo da ação e o rigor das fontes. Da queda dos titãs à queda de Troia, a fundação de Roma, as viagens épicas de Ulisses e Eneias e muito mais...
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Aos sábados, a partir de 16 de janeiro
Prometeu. O fogo insubmisso
2021-01-16
Prometeu é a figura capital na relação do ser humano com os deuses do Olimpo. Em virtude da sua generosa decisão de lhe entregar o fogo divino, a humanidade teve acesso ao conhecimento e à criatividade. Deixou de ser a mais incapaz das espécies – não era robusta, nem ágil e vigorosa como outras – e ergueu-se como a única capaz de comunicar com os imortais e de transcender o mundo da simples necessidade física para tentar acender a chama divina no seu interior. O mito de Prometeu marcou profundamente a cultura ocidental porque simboliza a capacidade de progresso e emancipação dos humanos num mundo perigoso e hostil. Não foi em vão que Prometeu, o Titã filantropo, concedeu poder aos humanos face ao domínio opressivo de Zeus, que o castigou severamente pela sua desobediência.
Ulisses é o mais moderno dos heróis gregos. Longe de sentir o fulgor militar de Aquiles e Heitor, ou a vocação de Hércules e Perseu para superar desafios sobrenaturais, Ulisses aspira a viver recolhido na sua ilha de Ítaca, junto da mulher e do filho. Mas o regresso de Troia, depois de uma década de batalhas estéreis, é árduo e arriscado, e o mar transforma-se num labirinto semeado de ameaças. O difícil périplo de Ulisses simbolizou sempre o percurso dos humanos pelo mundo, com os seus perigos e naufrágios frequentes, e a fidelidade a um ideal, por mais distante e inalcançável que pareça. O primeiro volume da viagem até Ítaca inclui a partida das costas da Ásia Menor, o encontro com os lotófagos, a luta com o ciclope Polifemo e o encontro com Éolo, o versátil deus dos ventos.
O Minotauro é um monstro aberrante, gerado pelo animalismo mais antinatural. O seu carácter híbrido – corpo de homem e cabeça de touro –, assim como a sua dieta à base de humanos, leva Minos, rei de Creta, a enclausurá-lo num intrincado labirinto do qual é impossível sair. O monstro vive no seu interior, onde se entretém a perseguir as vítimas que lhe são oferecidas. Injuriado pelo rei de Atenas, Minos impõe a esta cidade um tributo anual de 14 jovens para alimentar o Minotauro. Só a chegada de um grande herói, Teseu, acabará com o horrível derramamento de sangue inocente. O mito de Teseu e do Minotauro, rico em todo o tipo de simbologia, reflete também a substituição de Creta pela emergente Atenas como potência hegemónica do Mediterrâneo.
Hércules foi o herói mais popular da Antiguidade, o super- -homem semidivino por excelência e ídolo de todos os gregos. Filho de Zeus e de uma mortal, sofreu, desde o nascimento, o ódio implacável de Hera, que o sujeitou a todos os castigos imagináveis. Enlouquecido pela deusa, cometeu o mais atroz dos crimes e, para se purificar, viu-se obrigado a servir o indigno rei Euristeu, que lhe impôs 12 missões aparentemente impossíveis. Para cumprir estes trabalhos, teve de enfrentar monstros sobrenaturais, como o leão de Nemeia, a hidra de Lerna, o cão Cérbero ou o touro de Creta, e alcançar troféus remotos, como o cinturão da rainha das Amazonas ou as maçãs de ouro do Jardim das Hespérides. O seu triunfo, mais do que as proezas de um super-herói, ilustra o poder da vontade e da virtude humana em relação aos desafios mais exigentes.
A difícil viagem de Ulisses para regressar à pátria demorou mais do que planeara; tanto que acabaria por demorar dez anos, o mesmo tempo que passara a combater em Troia: duas décadas longe dos seus entes queridos. Ulisses, que só ansiava viver em paz com a mulher e o filho na sua pequena ilha, passou pelas situações mais maravilhosas e sobrenaturais: viveu com a feiticeira Circe – que transformava os homens em porcos e noutros animais – e com a deusa Calipso, que lhe ofereceu a imortalidade em troca do seu amor; superou o canto das sereias, que atraía os marinheiros para os baixios, e o estreito letal entre os monstros Cila e Caríbdis; desceu ao submundo, onde encontrou a alma da mãe no meio de um exército de espetros… Porém, a prova mais difícil talvez tenha sido renunciar ao amor puro da princesa Nausícaa, com quem poderia ter conhecido a felicidade.
Zeus, deus supremo do Olimpo, não alcançou a sua posição hegemónica de um modo natural, mas sim através da guerra. Neto de Úrano (o Céu) e filho de Crono (o tempo que tudo devora), teve de revoltar-se contra a opressão paterna para conquistar o poder e ocupar o trono do Olimpo. A vitória esforçada sobre Crono implicou uma mudança de ordem no Cosmos: afastou os Titãs, que o tinham dominado até então, e afirmou a supremacia dos Olímpicos, daí em diante senhores do Universo. O relato grego sobre os alvores do Cosmos, com o seu obscuro fundo de mistério, é uma interpretação fascinante da passagem do caos à ordem e uma criação poética admirável, cuja verdade essencial tem um profundo valor simbólico e transcendente.
Para castigar a humanidade e o Titã Prometeu, que roubou o fogo aos Olímpicos em benefício dos homens, Zeus envia-lhes um «mal maravilhoso»: a primeira mulher. Detentora de uma caixa que esconde a doença, a morte, a pobreza, a inveja e todos os restantes males, a bela e sedutora Pandora converte-se involuntariamente na portadora de todas as desgraças que assolam a humanidade. Tal como a história bíblica protagonizada por Eva, também o mito de Pandora revela uma mentalidade patriarcal e misógina. No entanto, na medida em que ganha expressão própria, a personagem atesta a capacidade redentora da mulher num mundo dominado pelos homens. Por isso, a leitura do mito de Pandora em pleno século xxi é de uma modernidade surpreendente.